quarta-feira, 4 de março de 2009

O sábio Kindâma

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para Walter Santa-Helena

I

Vinha o Rei Pându
feliz pelos campos
de flores cheirosas,
pois a primavera
cobria as montanhas.

Brilhantes botões
amarelos, onde
voavam abelhas
pretas. Atmosfera
fresca: sol e brisa.

Mádri, sua jovem
esposa que ia
ali adiante
com o sári de seda
(gentil, balançando)

cantava baixinho
só para si mesma
e, de vez em quando,
parava e colhia
uma flor, sorrindo.

O sol quente brilhou
bem por detrás dela,
no que o rei pensou:
“Mas como ela é bela!
E eu não posso tê-la...”


II

Ele aproximou-se,
e ela sorriu –
sua silhueta
era graciosa
contra a luz do sol.

Brotou de repente
uma sensação
de causa evidente:
já fazia anos
que a abraçara.

Deixando cair
no chão os legumes
que colheram juntos,
foi rumo à esposa
em grande alvoroço.

Imediatamente,
Mádri intuiu
os seus sentimentos.
Notando o desejo,
ela teve medo.

“Rei”, tentou dizer,
“controle a mente
se quiser viver!”
Levantou o braço,
fez não com a cabeça.


III

Porém o Rei Pându
ignorou de todo
aqueles avisos
e foi como um louco
ao não-permitido.

Abaixando os braços
abertos de Mádri,
ele os colocou
ao redor do próprio
corpo, com malícia.

E, desesperada-
mente, a princesa
tentou se livrar
dos braços do Rei
que, tomado, ria.

Caindo na grama
macia, os dois
sentiram-se livres,
vivos e sagrados,
assim como os bois.

A princesa presa
em seus braços firmes.
Ele a apertava
forte contra o solo.
Boca atrás de boca.


IV

De súbito, ele
sentiu em seu peito
uma dor terrível.
Tossindo sem ar –
um grito abafado.

Com Mádri ao lado,
Rei Pându deu seu
último suspiro
e então morreu,
deixando essa vida.

“Oh!”, Mádri gritava.
Também soluçava,
não podia crer.
Em vão balançava
o corpo do Rei.

Era muito tarde
para qualquer coisa:
era a maldição
do sábio que tinha,
enfim, se cumprido.

Tentar procriar
estava proibido,
o Rei muito bem
que sabia disso
(mas não deu ouvidos).


V

Muitos anos antes,
caçando entre as árvores,
Rei Pându flechara
acidentalmente
o sábio Kindâma

que tinha tomado
forma de um veado
e ia gerar
um filho na esposa.
Para libertar

Pându de seu karma,
O sábio disse ao
Rei que se algum dia
tentasse ter filhos,
ele morreria.

Foi por isso que
ele decidiu
nunca fazer sexo,
viver uma vida
como a dos ascetas.

É essa a história
do Rei que partiu
deixando para trás
suas duas esposas
e os seus cinco filhos.
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