terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Entrevista com Dapieve

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A EMBRANCO CONSEGUIU JUNTAR UMA DAS APOSTAS DA NOVA GERAÇÃO DE POETAS CARIOCAS COM UM PROFESSOR DE COMUNICAÇÃO DA PUC, ESCRITOR E CRONISTA DO JORNAL O GLOBO. JÁ RECONHECERAM OS PERSONAGENS? NÃO ESTÁ NEM A FIM DE FAZER UMA PESQUISA RÁPIDA NO GOOGLE? DESVENDAREMOS ENTÃO: LUCAS VIRIATO, EDITOR DO JORNAL PLÁSTICO BOLHA, AUTOR DO LIVRO MEMÓRIAS INDIANAS, PELA EDITORA IBIS LIBRIS. E ARTHUR DAPIEVE, QUE ACABA DE LANÇAR O LIVRO BLACK MUSIC, PELA EDITORA OBJETIVA. VALE MUITÍSSIMO A PENA CONFERIR O BATE-PAPO.
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Lucas Viriato – Pensando na EmBranco, no Plástico Bolha, nessas mídias alternativas que geralmente nascem no ambiente universitário, queria saber o que você pensa delas, que em outras épocas, na ditadura, por exemplo, eram tão comuns.

Arthur Dapieve – Há a desmobilização. É uma boa observação. Pode parecer paradoxal, mas algumas coisas eram mais fáceis na ditadura. Falar contra o poder, por exemplo. Porque era uma coisa distante, ele estava lá e você não tinha nada a ver com ele. Com a redemocratização fica mais difícil porque você tem participação. As pessoas que elegeram o Collor, elegeram o Lula e o Fernando Henrique. Você ajudou a fazer aquilo. E por parte da impressa, houve sim essa desmobilização. Eu me formei aqui na PUC em 85 e existiam muitas publicações alternativas vinculadas ou não ao departamento de Comunicação. Hoje você tem o Jornal da PUC, que é vinculado à universidade, mas fora isso tem pouca coisa. Mesmo com a vantagem da internet, que exclui o ônus do papel, que vocês sabem como é caro...

Lucas Viriato – Sim, sabemos!

Arthur Dapieve – Pois é, mesmo com a possibilidade do Blog (e outras ferramentas), não vemos articulação, um empenho em mobilizar. Apenas iniciativas individuais e isoladas. Eu acho que tem uma tendência na PUC, talvez mais do que em outras universidades, de o aluno achar que tudo é muito fácil. Sei que existe um pessoal que se esforça muito para estar aqui, mas o aluno padrão da PUC teve a vida um pouco fácil. Estudou em boas escolas, passou facilmente no vestibular e paga sem problemas a mensalidade. Aí tem uma atitude meio blasé que me irrita. Porque ensino não é uma relação mercantil do tipo você paga essa mensalidade durante x anos e eu te dou o “pacote Comunicação” ou o “kit Letras”. É uma troca. Até entendo que muitas vezes essa atitude é estimulada pelo lado dos professores...

Lucas Viriato – Você faz sua parte?

Arthur Dapieve – Eu faço minha parte: tô aqui todo dia, corrijo prova, estimulo trabalhos e não vejo resposta. Esse tipo de atitude condiz com essa pouca vontade nas mídias alternativas.

Lucas Viriato – Vamos falar de quem está começando na literatura hoje em dia. Com essa opção de mídia impressa, com alguns blogs de qualidade e revistas que revelam talentos, qual seria o caminho para quem está começando hoje? Eu tenho minha experiência pessoal.

Arthur Dapieve – Como foi sua experiência?

Lucas Viriato – Eu vejo que tem a questão de ser bom ou não, mas tem uma realidade que envolve mercado e dinheiro. Tem que ter dinheiro.

Arthur Dapieve – Tem até uma coisa que precede isso. As pessoas não estão escrevendo muito, não estão praticando. E escrever é prática. Escreve-se muito nas aulas o que se obriga, mas não é uma vontade. E isso se torna chato. Mas quem consegue praticar, consegue pagar ou atrair a atenção de alguém, acaba ganhando um destaque.

Lucas Viriato – Você escreve muito sobre música. Você gosta de ler poesia? Tem o hábito?

Arthur Dapieve – Eu sou um mau leitor. Eu não tenho o hábito. Na verdade eu tenho um gosto muito específico pra poesia, o que faz com que boa parte da produção fique fora do meu radar. Eu gosto de uma poesia usando prosa com dicção cotidiana, meio oral. Coisa que vejo na Alice Sant´Anna ( poetiza carioca, estudante de Letras da PUC). Um tipo de leitura que você chega na frente da platéia e lê. Se ficar mais no campo do experimento formal, não me toca tanto. Mas é claro que reconheço a importância. Poetas que gosto, como Ezra Pound e Stearns Eliot falam, você consegue ler aquilo. Pound dizia que sua experimentação tornava aquilo freqüentemente possível de entender. E a experimentação formal é responsável poruma larga parte da produção. Acho que a poesia mais falada me lembra mais a música e se adapta melhor a ela.
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Um comentário:

  1. Esta entrevista eu fiz por convite do Thiago Gomide, editor da EMBRANCO. No começo estava um pouco desconfortável, mas no final acabou dando tudo certo. O Arthur Dapieve é um cara muito bacana e parece gostar de ser professor. Acho que a entrevista ficou legal, espero que todos gostem. Também não cheguei a ver o impresso, peguei essa entrevista na internet.

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